Ninguém viu de fora, mas o que rolou nas reuniões dentro do Palácio do Planalto durante a discussão da nova lei de licenciamento ambiental foi de arrepiar. O projeto aprovado em julho de 2025 pelo Congresso parecia encaminhar facilidades inéditas para grandes obras no Brasil, mas acabou virando palco de guerra silenciosa entre ministros e equipes técnicas. De um lado, Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) liderando a tropa que pedia mais proteção; do outro, ministérios ligados à economia, como Minas e Energia e Infraestrutura, pressionando por menos burocracia nos licenciamentos.
A briga ficou séria mesmo quando entrou em pauta a tal da 'Licença Ambiental Especial' (LAE). Pela versão original, projetos considerados estratégicos — mesmo aqueles com risco alto de degradação — poderiam ganhar autorização ambiental prática em só uma etapa. Para Marina e seus aliados, isso abria a porta para devastação sem controle e feria a Constituição. Os representantes dos Povos Indígenas e da Fundação Palmares engrossaram o coro, dizendo que comunidades tradicionais ficariam à mercê do interesse de grandes empreiteiras e setores de energia e logística, sem consulta ou proteção adequada.
Enquanto o time econômico mostrava dados apontando atrasos de até cinco anos para liberar obras de infraestrutura, dizendo que isso freava o crescimento do país, os ambientalistas traziam laudos técnicos reforçando o risco de catástrofes — principalmente se o país liberasse licenças em lote, sem vistoria séria.
Numa reunião tensa em 5 de agosto, Marina Silva apresentou pareceres detalhados e deixou claro: ou vetava partes perigosas da lei, ou iríamos ver retrocessos ambientais de décadas. Para rebater, os defensores da nova lei apelaram para o argumento da competitividade internacional, afirmando que o Brasil perderia bilhões se continuasse parado, preso na malha burocrática. Foi nesse clima que o presidente Lula se viu obrigado a buscar um ponto de equilíbrio.
Lula preferiu a navalha fina: não rejeitou tudo, o que irritaria o setor empresarial e vários governadores aliados, mas fez 63 vetos estratégicos. O principal foi justamente barrar a licença em fase única da LAE, evitando que projetos de alto impacto fossem aprovados no modo turbo, sem debate técnico nem consultas com comunidades afetadas.
Teve ainda um movimento tático: o governo preparou, ao mesmo tempo, uma medida provisória (MP 1.308/2025) que impõe mais rigor para a tal licença especial, tentando impedir que interesses econômicos passassem por cima da proteção ambiental. Isso agradou grupos ambientais e, ao mesmo tempo, deu margem para destravar algumas obras paradas há anos.
Durante as conversas finais, relataram que Lula resumiu o dilema com uma frase de efeito: “A economia não pode brigar com a ecologia, ela tem que andar junto.” Com esse discurso, o presidente bancou o meio-termo — tentando mostrar que o Brasil pode crescer sem atropelar as florestas e as comunidades que dependem delas.
A decisão repercutiu forte nos bastidores, agradando em parte ambientalistas, e fazendo empresários manterem certa esperança de que, apesar dos vetos, vai ser possível avançar em projetos de energia e infraestrutura nos próximos anos. A expectativa agora é ver como o Congresso vai reagir aos vetos e se ajustes extras vão surgir no debate nos próximos meses.