Quando José de Paiva Netto, presidente da Legião da Boa Vontade, faleceu na madrugada de 7 de outubro de 2025, o Brasil perdeu um dos mais influentes líderes espirituais e humanitários da última geração. O falecimento ocorreu no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, Rio de Janeiro, por falência múltipla dos órgãos, depois de mais de oito décadas de serviço à sociedade.
Nasceu em 2 de março de 1941, na zona sul do Rio de Janeiro, filho de uma família católica que incentivava o estudo e a arte. Ainda adolescente, aos 15 anos, ingressou no movimento fundado por Alziro Zarur, jornalista, radialista e poeta que, em 1950, criou a Legião da Boa Vontade (LBV) como um organismo de ajuda mútua baseada em valores cristãos.
Paiva Netto começou como assistente pessoal de Zarur, participando de rondas de assistência social e de oficinas de rádio. Em 1972, foi nomeado Secretário‑Geral da LBV – cargo equivalente a vice‑presidente – e, com a morte de Zarur em 1979, assumiu a presidência, sucedendo a esposa Iracy e os filhos Paulo e Pedro, que haviam temporariamente dirigido a instituição.
Ao longo de sua gestão, desenvolveu a chamada "pedagogia do afeto" e a "pedagogia do cidadão ecumênico", metodologias que integravam valores espirituais à formação cidadã. Em 1989, inaugurou o Templo da Boa Vontade em Brasília, obra‑prima arquitetônica que se tornou marco cultural e espiritual da capital.
Durante 46 anos à frente da LBV, Paiva Netto transformou a organização de um coletivo regional em um movimento com presença em mais de 120 países. A entidade conquistou status consultivo junto à Organização das Nações Unidas (ONU), o que lhe permitiu participar de debates sobre direitos humanos, educação e assistência social.
Os números são impressionantes: mais de 2,3 milhões de voluntários ativos, 1,8 milhão de crianças atendidas por programas de alfabetização, e 500 mil famílias beneficiadas por projetos de moradia digna. Em 1995, a LBV lançou o programa "Criança Feliz", que hoje opera em 32 estados brasileiros.
Além da ação social, Paiva Netto foi prolífico na produção de conteúdo: escreveu 24 livros, 87 artigos e manteve programa diário de rádio na Rede Globo até 2008. Também foi membro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e da União Brasileira de Compositores (UBC).
O anúncio oficial foi feito pela própria Legião da Boa Vontade na manhã de 7 de outubro, ressaltando que a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos, consequência de complicações cardíacas preexistentes.
Em Brasília, no Templo da Boa Vontade, fiéis se reuniram para uma vigília emotiva. Lina do Nascimento de Silva Santos, secretária executiva do coral do templo, declarou entre lágrimas: “Falar dele é como falar de um pai ou de um amigo bem próximo. Mesmo quando não estava fisicamente presente, era como se ele sempre tivesse algo bom para nos dizer.”
As cerimônias oficiais acontecerão em São Paulo, no Memorial Parque Jaraguá, Vila Sulina, na quarta‑feira, 8 de outubro, das 8h às 11h, abertas ao público. Autoridades municipais, representantes da ONU e dirigentes de movimentos sociais já confirmaram presença.
Especialistas afirmam que a perda de Paiva Netto deixa um vazio estratégico. A socióloga Mariana Alves de Souza, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, observa: “Ele foi o arquiteto do modelo de voluntariado que hoje serve de referência para ONG’s no Brasil e no exterior. Sem sua visão, a LBV pode enfrentar desafios de sucessão e de manutenção de projetos de longo prazo.”
Entretanto, o Conselho de Diretores da LBV já indicou o vice‑presidente atual, Carlos Eduardo Pereira, como sucessor interino, prometendo dar continuidade ao programa de “educação afetiva” e à parceria com a ONU.
Nos próximos meses, a LBV deve reavaliar sua estrutura de governança e abrir processos de transparência para assegurar a confiança dos milhares de doadores que mantêm a instituição.
O futuro da organização, no entanto, parece seguro: projetos de alimentação infantil no Nordeste, iniciativas de saneamento em favelas de São Paulo e a expansão do centro de capacitação de jovens em Salvador continuam em cronograma.
Em resumo, a morte de José de Paiva Netto marca o fim de uma era, mas também abre espaço para que novos líderes assumam a bandeira da solidariedade, mantendo vivo o ideal de “boa vontade” que ele tanto pregou.
Os voluntários podem sentir insegurança quanto à continuidade dos projetos, mas a LBV já comunicou que mantêm a estrutura organizacional e que o vice‑presidente interino garantirá a execução das ações em curso, evitando interrupções nas áreas de educação e assistência social.
Ele criou a "pedagogia do afeto" e a "pedagogia do cidadão ecumênico", métodos que ainda são adotados por escolas públicas em 12 estados. Esses programas enfatizam valores como empatia, responsabilidade social e respeito inter-religioso, formando jovens mais conscientes.
Não. O status consultivo é institucional e permanece válido independentemente da liderança. Contudo, a ONU acompanhará a transição para garantir que a LBV continue contribuindo nos comitês de educação e direitos humanos.
A cerimônia será na quarta‑feira, 8 de outubro de 2025, das 8h às 11h, no Memorial Parque Jaraguá, localizado na Vila Sulina, São Paulo. A entrada é gratuita e aberta ao público.
O Conselho de Diretores indicou o vice‑presidente, Carlos Eduardo Pereira, como presidente interino, com mandato até a realização de eleição interna prevista para o segundo semestre de 2026.
Verônica Barbosa
outubro 8, 2025 AT 02:41A perda de um patriota como Paiva Netto evidencia o declínio da moral brasileira.