Noite tensa em Belo Horizonte. Em um clássico cheio de história e pressão, o Cruzeiro venceu o Atlético-MG por 2 a 0 na Arena MRV e abriu vantagem nas quartas de final da Copa do Brasil 2025. O placar saiu do jeito que treinador adora: em bolas paradas muito bem treinadas. Em casa, o Galo não conseguiu transformar volume em chances claras e sai com um prejuízo enorme para o jogo de volta.
Os dois times foram com força máxima. Cuca armou o Atlético com Everson; Natanael, Vitor Hugo, Junior Alonso e Guilherme Arana; Alan Franco, Gabriel Menino e Gustavo Scarpa; Cuello, Rony e Hulk. Do outro lado, Leonardo Jardim apostou em Cássio; William, Fabrício Bruno, Villalba e Kaiki Bruno; Lucas Romero, Lucas Silva, Christian e Matheus Pereira; Wanderson e Kaio Jorge. O desenho deixou claro o plano: o Galo queria acelerar por dentro com Scarpa e Menino abastecendo Hulk, enquanto o Cruzeiro buscou fechar o corredor central e esperar o momento certo para ferir.
O primeiro tempo foi típico de mata-mata entre rivais. Muita disputa no meio, marcação colada e pouca margem para erro. O Atlético tentou acionar Hulk no pivô e nas diagonais de Cuello e Rony, mas esbarrou em uma linha defensiva firme. Fabrício Bruno venceu duelos aéreos e por baixo, e a dupla Romero-Lucas Silva protegeu a frente da área, cortando linhas de passe e forçando o Galo a cruzar de longe.
Depois do intervalo, o Cruzeiro foi fatal nas bolas paradas. Em um escanteio muito bem batido, a movimentação confundiu a defesa alvinegra, e a presença de Fabrício Bruno no primeiro pau foi determinante para a jogada que abriu o placar. Pouco depois, novo escanteio, nova execução precisa e Kaio Jorge apareceu para empurrar para a rede, matando o impulso do mandante.
O roteiro pesou mentalmente. Com 0 a 2, o Atlético adiantou linhas, trocou passes na intermediária ofensiva e tentou acelerar com Arana por fora. Faltou, porém, capricho no último passe. O Cruzeiro, confortável no placar, baixou o ritmo, controlou as distâncias entre setores e não se expôs. O time de Leonardo Jardim mostrou treino: bloqueios bem ensaiados na origem da bola, cobertura rápida no segundo poste e segurança para tirar cruzamentos.
Do ponto de vista tático, a chave do duelo esteve na disputa pelos rebotes. Quando o Galo forçava o jogo direto, os celestes abocanhavam a segunda bola e respiravam. Quando o Cruzeiro tinha escanteio ou falta lateral, ocupava a área com inteligência e atacava espaços, algo que fez a diferença no placar. Para o torcedor que gosta de detalhes: o posicionamento de Fabrício Bruno nas bolas paradas bagunçou as referências do Atlético, abrindo brechas para a finalização de companheiros.
A conta é simples para o Atlético-MG: precisa vencer por dois gols de diferença para levar aos pênaltis, já que não há gol qualificado. Três ou mais de vantagem, classifica direto. Isso impõe ajustes. Mais amplitude para tirar a defesa cruzeirense da zona de conforto, mais infiltração de Scarpa e Menino entre zagueiros e volantes, e uma execução mais limpa nas bolas paradas a favor — porque esse duelo também se decide no detalhe aéreo.
Para o Cruzeiro, a missão é não abrir mão do que funcionou. Linha compacta, meio-campo agressivo nos duelos e controle emocional. Com vantagem, o time pode alternar momentos de pressão alta para empurrar o Galo para trás com blocos médios que protejam a área. E, claro, manter a bola parada como arma: quando a técnica encontra repetição, o risco para o adversário cresce a cada escanteio.
Esse 2 a 0 também mexe com a memória do torcedor. O clássico mineiro em mata-mata sempre teve capítulos fortes. Em 2014, por exemplo, os rivais decidiram a Copa do Brasil, com o Atlético levando a melhor. Hoje, o contexto é outro, mas a tensão é a mesma: quem erra menos avança. E a vantagem de dois gols fora de casa pesa demais em série curta.
No vestiário, a lista de tarefas de Cuca é clara: dar soluções para Hulk receber de frente, acelerar a circulação para evitar previsibilidade e proteger melhor a primeira trave nos escanteios — ponto crítico na Arena MRV. Leonardo Jardim, por sua vez, sabe que não dá para estacionar o time: é ajustar a saída quando pressionado, usar Matheus Pereira para respirar com a bola e manter Kaio Jorge vivo entre os zagueiros.
O jogo de volta promete um clima quente e escolhas de risco. Vale vaga na semifinal, calendário mais leve para quem cai e uma injeção de confiança para quem passa. Em duelos assim, cada dividida vira lance-chave, cada cobrança de escanteio pode definir o rumo da temporada.
Clássico não perdoa detalhe. O Cruzeiro sai grande da Arena MRV. O Atlético ainda tem 90 minutos para reescrever a história desta eliminatória — e vai precisar jogar no limite para isso.